Conduzia um Jeep “Willis” numa picada plana e sinuosa, quando cruzei com uma zorra carregada de sacos de milho e de outras bugigangas. A acompanhavam-na os proprietários das mercadorias que se dirigiam à povoação comercial do Calundo. Parei, pois reconheci o condutor : era o Calundulo meu antigo empregado. A zorra tinha o feitio de uma fisga ( em ípsilon ) e na pega estava amarrada com piaças uma canga para dois bois que arrastavam pela picada aquele rudimentar meio de transporte.
E pensei na roda. Quem a descobriu e em que século. Vem-me ao pensamento Galileu e o movimento pendular. A terra a girar à volta do sol e também sobre o seu próprio eixo, descoberta que quase o levou à morte. O relógio com as suas rodinhas, a carroça, ou seja a zorra mas já com rodas. Sonhava.
Tinha em casa, abandonada, uma velha camioneta. Ofereci ao Calundulo um dos seus eixos com as rodas de pneus para montar em cima a sua zorra. E continuei a sonhar
"Se o nosso espírito pudesse compreender a eternidade ou o infinito, saberíamos tudo. Até podermos entender esse facto, não podemos saber nada."
Fernando Pessoa
10 novembro 2020
A zorra
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