07 agosto 2017

O lobo e o cordeiro (Contos repartidos)

Na véspera da partida para o Songo, ao meio da tarde, o céu estava cinzento, ameaçando chuva e trovoadas. José Vilares, agrimensor, decidiu, apesar das ameaças, preparar o jipe, mandando Catonho, que era ajudante, cozinheiro e lavadeiro, tudo ao mesmo tempo, oriundo do bailundo, levantar o pára-brisas e colocar as lonas da cobertura. Os aparelhos próprios da profissão já estavam acondicionados no atrelado. Faltavam apenas alguns produtos alimentares, petróleo para o petromax, flit, tabaco, e as indispensáveis bebidas. Passou pela loja do Carvalhosa, velho amigo e companheiro de muitas farras e caçadas, ali perto, onde tinha crédito e podia fiar o que quisesse. Feitos os avios, incluindo quinino para combater o paludismo e uma caixa de primeiros socorros, acondicionou tudo num caixote que carregou no jipe. Dali seguiu para uma estação de serviço, onde atestou o depósito de combustível, viu o nível de água do radiador e a pressão dos pneus e voltou ao hotel “Estrela da Manhã”, onde estava hospedado há mais de um mês. Arrumou as malas, jantou e decidiu aproveitar a última noite na cidade. Iria ao encontro de Alzirinha num bar muito frequentado, famoso pelos seus petiscos. Ela era uma figura bonita, cabelos loiros dispostos em caracóis, olhos castanhos. Sempre bem disposta, alegre, enternecedora, dedicada, que despertava todo o tipo de desejos nos homens. José Vilares sentia-se feliz em sua companhia. Petiscaram, beberam sem excessos, ouviram música e dançaram. Levou-a depois para o hotel. Gozou com volúpia e prazer o seu corpo esbelto, peito esplendoroso, ancas voluptuosas numa entrega total. Suficientemente saciados reclinaram-se nas almofadas e trocaram olhares, sorrindo. Fumaram cigarros e despediram-se com promessas. Vilares partiu logo a seguir, de madrugada, deixando para trás os prazeres e as comodidades que a cidade proporcionava e antecipando os que o esperavam no regresso. Acreditava que ela não faria nenhum esforço em agradar-lhe, quando aparecesse na cidade para retemperar forças e o prolongado isolamento. Conduziu em silêncio. Apenas se ouvia o ronronar do motor e a chuva forte e em rajadas que fustigava o pára-brisas. Catonho, a seu lado, dormitava, cabeceando ao ritmo dos saltos e das curvas da estrada térrea. Ao nascer do sol, chegou ao Songo: Estacionou o jipe frente à residência do comerciante António Lobo que lhe propusera efectuar uma demarcação de terras recentemente requeridas ao Estado. Aproveitaria a oportunidade para ajustar alguns detalhes sobre o preço final e o prazo de entrega do trabalho. Lobo era um homem baixo, atarracado, bexigoso e vesgo do lado direito. Conhecido por Cambuta era sebento, tinha a barba por fazer, camisa metida nas cuecas, cinto apertado abaixo delas. Convidou-o a tomar o pequeno-almoço, antes de partirem para Cacolongo, local da demarcação, que ficava a 10 quilómetros, ligado por uma picada, sinuosa e estreita, cravada de pedras e buracos. Cumprimentou D. Zulmira, esposa do Cambuta, que vestia ainda a camisa de noite, coberta pelo robe, azul, decote provocante, deixando adivinhar intimidades. Lançando-lhe um olhar libidinoso desculpou-se do incómodo da hora. Redondinha, cheia de curvinhas, era um regalo para os sentidos. Esta, quando casou, tomou conta do matrimónio e conduziu o marido pela vida adiante. Mas essa relação deteriorou-se e já não era perfeita. Vários problemas conjugais levaram-na a desprezá-lo. Ele era manso e complacente na sua presença. Convidado a sentar-se para o matabicho-de-garfo, acompanhado de um café quente e aromático, Vilares aceitou apenas o café, tanto mais que o estômago prenunciava azia, reclamando dos exageros da noitada. Zulmira era uma mulher baixa, pele morena, cabelos ondulados flutuando pelas costas. Indiferente com o marido, que ligava mais à loja e às negras, aliás do seu conhecimento, afastou-se dele. Apenas formalmente era sua mulher...


Atenção: BCA. (Bai continuar ainda)

Sem comentários:

Enviar um comentário

Publicação em destaque

Calhando ...

  Tenho uma grande paixão pelo Benfica. Desde criança  e assim que soube pronunciar a palavra Benfica que sou deste clube. Ontem, 18 de Agos...