Em 1941, visto ter chumbado na 3ª classe por razões que não me agradaram e que não vêm ao caso, o meu pai decidiu que fosse estudar para Benguela, a 250 Klms da Ganda, onde vivíamos. Fui para casa de uma senhora, amiga dos meus pais, pois ela própria se tinha oferecido para custear a minha instrução e educação. E lá fui.
Recordo, como se fosse hoje, que, quando qualquer membro da minha família se ausentava, era uma choradeira nunca vista: choravam os meus pais, choravam os meus irmão e aquele que se ausentava. E assim aconteceu quando fui para casa da D. Albina, uma mulher robusta, corada, natural do Porto e que tinha uma boa vivenda e vivia, salvo erro, da exploração de uma pescaria.
Para ser matriculado na escola nº 31 ( Curibeca), andei numa explicadora, onde conheci o Fernando Pires (fotografo). Ali renovei os meus conhecimentos e aprendi mesmo muito. E lá fui para a escola, onde o professor Serrado da Fonseca Santos reconheceu os meus méritos e tive gloriosas sabatinas com o Eduardo Abreu e outros adversários escolares.
Nas primeiras férias, regressei de comboio à Ganda, tinha os meus pais e os meus irmãos à espera e houve a choradeira habitual. Voltei 15 dias depois a Benguela. Recordo que, como estávamos na época do calor, as refeições eram debaixo de uma grande árvore (tamarineiro) e, nesse dia, ao jantar foi servido um caldo verde. Estávamos à mesa eu e a D. Albina. E eu chorava ainda com saudades dos meus pais e irmãos o que não foi do agrado da Senhora. E não fez mais nada: manda-me uma grande lambada com as costas da mão e quando ia a cair da cadeira levei outra com a palma da mão que restabeleceu o equilíbrio. Foram tão violentas as lambadas que deixaram, por alguns dias, marcas na minha cara. Parei de chorar, mas fiquei muito magoado com a humilhação.
Fiz exame e passei para 4ª classe. E regressei a casa para as férias grandes.
Contei ao meu pai o que se passara e disse-lhe que não queria voltar para casa da senhora que estava pronta a suportar os meus estudos. Ele lembrou-me exactamente isso, mas como estava muito magoado, atendeu o meu pedido. E fui para o Huambo frequentar o colégio Adamastor, ficando alojado em casa da minha tia Ivone. O meu pai era assim.
"Se o nosso espírito pudesse compreender a eternidade ou o infinito, saberíamos tudo. Até podermos entender esse facto, não podemos saber nada."
Fernando Pessoa
18 março 2021
África minha ! 3
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