Isto vem a propósito de uma anedota que ouvi já lá vão umas décadas:
Um mancebo apresentou-se no quartel para o recrutamento. Recebeu-o um cabo que começou, desde logo, a preencher uma ficha cadastral.
- Como te chamas?
- José Maria de Jesus.
- Pai?
- Alexandre de Jesus.
- Mãe?
- Maria da Encarnação.
- Aonde é que nasceste?
- Freixo-de -espada -à –cinta.
- Profissão?
- Eu sou bloqueiro.
- Bloqueiro! Ah! Bloqueiro, pois, pois.
O cabo levantou-se e foi ter com o sargento e disse-lhe:
- Meu sargento: está ali um gajo que diz que é bloqueiro.
- Bloqueiro? Manda cá o rapaz.
Chamado o mancebo à presença do sargento, este iniciou novamente o interrogatório:
- Qual é o teu nome?
- José Maria de Jesus.
- Filiação?
- Alexandre de Jesus e de Maria da Encarnação.
- Naturalidade?
- Freixo-de-espada-à-cinta
- Profissão?
- Bloqueiro.
- Umm! Tem piada. Bloqueiro, não é?
- Olha! Espera um pouco. Vou falar com o nosso alferes.
Dirigiu-se ao gabinete do alferes, perfilou-se, fez a continência, e disse-lhe:
- Meu alferes: apresentou-se um gajo que diz que é bloqueiro.
- Bloqueiro?!! Trá-lo cá.
Entrou o recruta, interrogado, agora pelo alferes, respondeu às questões que lhe foram postas:
- Então rapaz. Já sei que és de Freixo-de espada-à-cinta
- Sou sim senhor.
- O que é que fazes?
- Sou bloqueiro.
- Curioso! Bloqueiro. Cá está ele. Pois, pois, bloqueiro!
O alferes abriu a porta do gabinete do capitão, contíguo ao seu, e disse-lhe:
- Oh! meu capitão: não quer lá ver que temos aqui um recruta que é bloqueiro!
- Bloqueiro?
- Diz que lá na terrinha é bloqueiro.
- Apresenta-mo
José Maria de Jesus foi presente ao capitão que novamente o interrogou:
- O que é que fazes na vida, rapaz?
- Sou bloqueiro.
- Ainda bem! Faltava-nos cá um. Vou-te levar ao nosso coronel, por sinal comandante do batalhão.
Meu coronel, diz-lhe o capitão. Está ali um tipo que diz ser bloqueiro.
-Bloqueiro, exclama o coronel. Manda-o entrar.
- Dá-me licença, meu coronel.
- À vontade, meu rapaz. Então és bloqueiro. Do que é que precisas para trabalhar?
- De uma celha com água e umas pedras.
O coronel virou-se para o capitão e disse-lhe para preparar os apetrechos na parada do quartel. Este ordenou ao alferes a execução da ordem que a passou ao sargento e este ao cabo.
O cabo chamou dois soldados para colocarem no meio da parada a celha com água e as pedras. Tudo pronto, foi avisado o coronel que se deslocou à parada, na qual estava todo o batalhão para assistir à cena.
- Então, rapaz? Mostra lá do que és capaz.
O mancebo, alvo da curiosidade de todo o quartel e em especial do cabo, sargento, alferes, capitão e coronel, agarrou nas pedras que deitou à celha que fez bloq! bloq! bloq!
"Se o nosso espírito pudesse compreender a eternidade ou o infinito, saberíamos tudo. Até podermos entender esse facto, não podemos saber nada."
Fernando Pessoa
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